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Para empresa, gerenciar resíduo sólido dá prestígio

Aumentar o prestígio da marca e vendas dos produtos, reduzir os custos de produção, além de atender à demanda dos ambientalistas, são os maiores motivadores das empresas que realizam alguma atividade para gerenciamento dos resíduos pós-consumo.
 
Os dados fazem parte da pesquisa que o Instituto de Logística e Supply-Chain fez em 2012 para conhecer o grau de adesão das empresas brasileiras ao Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), de 2010, e a sensibilização para o cumprimento das diretrizes do marco ambiental. "Existe a sensibilização ao tema e os processos de implantação dos sistemas estão caminhando, embora mais lentamente do que seria necessário", analisa Gisela Mangabeira de Sousa, gerente de Projetos do Ilos.
 
De acordo com a pesquisa, 61% das empresas declaram que têm alguma atividade para gerenciamento de resíduos pós-consumo, o que não significa que façam a logística reversa em sua totalidade. A prática da logística reversa para o pós-venda é mais comum, e 69% das empresas admitem que fazem esse gerenciamento.
 
"A logística reversa pós-consumo é a etapa mais complexa da sustentabilidade ambiental, pois a implementação da operação de retorno requer um esforço muito grande das empresas, do poder público e dos consumidores", diz Sérgio Pompeia, fundador da Consultoria, Planejamento e Estudos Ambientais (CPEA). Ele explica que, apesar de a lógica ser a mesma da logística tradicional, a reversa tem de lidar com agentes sociais e produtivos que têm interesses diferentes. "Para que os sistemas reversos sejam implementados com sucesso, precisa haver uma mudança de paradigmas", diz.
 
Os desenhos dos produtos precisam agregar funcionalidades que atendam também às necessidades de transporte, armazenagem e reciclagem depois do consumo. "A preocupação do fabricante não é mais atender apenas à necessidade de consumo, mas também atender à necessidade de retorno do produto à cadeia produtiva", sintetiza.
Para o setor produtivo, esse atendimento é visto como oneroso, na medida em que novas tecnologias e lógicas industriais precisam ser inventadas. O custo da operação da logística reversa também é uma preocupação. Na pesquisa do Ilos, a primeira dificuldade elencada para a sua implementação foi o alto custo operacional. "O impacto da operação reversa é maior quanto menor o valor agregado do produto", analisa a consultora. Além do custo, muitos segmentos, como o de pilhas e baterias, vivem a concorrência de produtos piratas, o que significa que teriam de pagar para coletar e destinar produtos que não venderam.
 
Esse segmento já atende à regulamentação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) para o recolhimento pós-consumo, embora não tenha um plano de metas definido. Calcula-se que em torno de 3% da produção de pilhas e baterias tenha destinação correta.
 
O marco legal ambiental federal que incluiu a logística reversa como obrigação para o setor produtivo, e também para consumidores, começou a ser construído há mais de 30 anos, quando foi editada a Política Nacional do Meio Ambiente. A aprovação do PNRS reforçou a necessidade da articulação dos segmentos empresariais para lidar com os produtos ao fim de seu ciclo de vida útil.
 
"Um outro ponto crítico é a dificuldade institucional do poder público", lembra Sergio Pompeia. Sem ele, crescem as dificuldades, pois a coleta seletiva, etapa crucial para a o retorno dos produtos, não se viabiliza sem que as administrações municipais adiram ao sistema. A PNRS exige que os municípios tenham um plano municipal de resíduos sólidos, sob pena de não terem acesso a financiamento federal para essa área. Na média, apenas metade dos mais de 5 mil municípios do país tem algum tipo de coleta seletiva, pelo menos uma vez por semana, pelo menos em um bairro.
 
"Dos atuais oito setores listados na PNRS para a implementação da logística reversa, quatro têm suas operações equacionadas, sendo que dois deles apresentam resultados práticos importantes", diz Gisela, do Ilos. A destinação ambientalmente correta e a reciclagem das embalagens de defensivos agrícolas no Brasil é referência mundial: enquanto o setor consegue destinar 94% das embalagens que utiliza, os Estados Unidos atingem apenas 30%. Desde 2002, por determinação do Conama os fabricantes montaram a logística reversa para suas embalagens, com investimentos de mais de R$ 450 milhões, dos quais 80% bancados pelos participantes do programa.
 
Os fabricantes de pneus têm, também, seu sistema de logística reversa consolidado. Gerenciado pelaReciclanip, funciona com base em convênios com prefeituras, para a coleta dos pneus inservíveis. Depois de armazenados nas áreas municipais, a Reciclanip viabiliza o transporte para a destinação final. Foram gastos mais de R$ 350 milhões nessas operações desde o início o programa, em 2007.
 
O setor de embalagens viabiliza seu programa de responsabilidade pós-consumo sob coordenação da Associação Brasileira das Indústrias de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. A atuação se dá dentro de um grupo composto por 21 entidades, que agrega também as indústrias usuárias das embalagens, distribuidores, varejistas e supermercados